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Alerta aos pais

Em 2008 estourou nos jornais a polêmica das toneladas de carga ideológica presentes em livros didáticos comprados pelo MEC e usados em escolas particulares. A Coleção Nova História Crítica, de Mario Schmidt, foi o maior alvo das pedradas: o livro do homem dizia que a Princesa Isabel era “feia como a peste e estúpida como uma leguminosa”.

O Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil tem a ver com essa polêmica. Foi só diante dela que eu botei na cabeça que precisava achar uma editora para o meu projeto. Aproveitei o gancho dos jornais para propor o livro ao Pascoal Soto, então editor da Planeta, que adorou a ideia e depois me levou para a editora Leya.

Tanto tempo depois, era de esperar que a coleção Nova História Crítica estivesse relegada a prateleiras empoeiradas. Mas o livro ainda vende a rodo. Quem me disse foi o amigo e leitor Márcio Leopoldo Maciel, do Rio Grande do Sul. Como o Márcio conta no blog Filosofia Cirúrgica, no ano passado só o MEC comprou 77 mil cópias do livro do Mario Schmidt. Nasce assim uma “geração de doutrinados”, como afirma o Márcio na excelente análise que reproduzo abaixo.

Uma geração de doutrinados

Por Márcio Leopoldo Maciel

Ele é um dos maiores sucessos do mercado editorial brasileiro. Em 2007, segundo dados da Revista Época, seus livros alcançaram 10 milhões de exemplares vendidos. De acordo com seu editor, eles são usados por mais de 50 mil professores, tanto em escolas públicas, quanto em escolas privadas. Desde 1998, estimativas do MEC, mais de 20 milhões de estudantes usaram a coleção de livros didáticos. O MEC contribui bastante, só em 2005 adquiriu 3,5 milhões de exemplares. Em 2010 as compras foram modestas, mesmo assim, o MEC gastou 2,5 milhões de reais na compra de 77 mil exemplares do volume único para o Ensino Médio. Parece pouco, mas esses números colocam o título entre os mais comprados em 2010 pelo MEC para o ensino de História. Assim, a dicotomia abaixo é conhecida pela maioria dos estudantes brasileiros.

Antes de ligar o milagre ao santo, vejamos o que o MEC diz sobre um dos livros do autor. No Catálogo do Programa Nacional do Livro para o Ensino Médio de 2008, material que auxilia os professores na escolha dos livros didáticos que serão adotados nas escolas, podemos ler o seguinte:

[a obra] problematiza o conhecimento histórico e valoriza a diversidade de possibilidades interpretativas.

É priorizado o ensino voltado para a formação do aluno como um cidadão autoconsciente e crítico.

Há preocupação com a construção da cidadania.

Embora não haja uma discussão explícita sobre conceitos e noções, alguns deles são empregados de forma adequada ao longo da obra.

Embora as imagens acima não façam parte do livro analisado pelo MEC, o conteúdo dele é praticamente o mesmo das outras obras do autor, obras em que encontramos as imagens. Se as palavras ainda significam o que normalmente significam e se não houve torções semânticas nos termos usados pelo MEC na avaliação, os livros da coleção Nova História Crítica, de Mario Schmidt, desmentem de modo cabal o que vai escrito acima.

Primeiro é importante fazer um esclarecimento: em 2007 houve uma grande polêmica envolvendo os livros de Mario Schmidt.  O diretor da Central Globo de Jornalismo e colunista do Jornal O Globo Ali Kamel escreveu um artigo denunciando a doutrinação ideológica presente no livro Nova História Crítica 8ª série. Na ocasião, diversos setores da imprensa trataram do tema, entre eles o Estado de São Paulo, a Folha de São Paulo e a Revista Época, da qual extraí alguns dos números citados. O jornalista Reinaldo Azevedo também deu destaque à polêmica,  é dele o crédito pela pesquisa das compras do MEC no ano de 2005. Olavo de Carvalho, já em 1998, alertava para o conteúdo doutrinário da Nova História Crítica.

Um segundo esclarecimento: li diversas reportagens, artigos de jornal e entrevistas sobre os livros de Mário Schmidt. Das reportagens quero destacar as opiniões dos especialistas (a maioria professores universitários) que pareciam concordar em um ponto: todo e qualquer livro é ideologicamente orientado. Assim minimizavam as críticas ao conteúdo doutrinário da coleção Nova História Crítica. Concluo que ou eles desconhecem os livros, ou concordam com o que está lá, porque o que está lá vai muito além do “um pouco de ideologia todo livro tem”.

Nos blogs, o mais criticado foi Ali Kamel e, por tabela, a Rede Globo. Segundo muitos, “queriam proibir o melhor livro de história”. O principal argumento de alguns blogueiros: o jornalista havia selecionado pequenos trechos do livro, o que altera a percepção da obra. Além disso, dizem, ele escondeu as críticas que Mario Schmidt faz ao socialismo. Essa tese é falsa. Em favor de Kamel poderia ser dito o óbvio, ele não poderia reproduzir o conteúdo de um livro em um artigo de jornal.

Naquela ocasião o MEC avisou que o livro de Mario Schmidt havia sido rejeitado por uma comissão avaliadora e não faria parte do guia do livro didático para o Ensino Fundamental em 2008. Entretanto, como vimos, o livro Nova História Crítica para o Ensino Médio – volume único participou normalmente do processo e foi recomendado pelo Catálogo. No ano passado, registre, o MEC adquiriu 77 mil exemplares desse mesmo livro.

A COLEÇÃO NOVA HISTÓRIA CRÍTICA

A linguagem é chula, o maniqueísmo é escancarado, há simplificações grosseiras, deturpações e omissões propositais. E, claro, muita doutrinação ideológica.

Dizem que um bom texto não leva tantos adjetivos, mas como qualificar certas coisas? Ora, justificando cada um dos adjetivos empregados. É o que pretendo fazer.

Comecemos pela foto acima, talvez o mais simbólico. Seria irônico se não fosse trágico constatar que um autor dito humanista e claramente marxista reificou um ser humano para satisfazer seus propósitos ideológicos. Transformou um indivíduo em coisa em nome de seu proselitismo político vulgar. Ali não há uma crítica à sociedade capitalista, ali há, sim, uma evidente exploração da condição lamentável daquele homem. É pior, Schmidt força o indivíduo a debochar de sua própria condição. O que ele diria, que os fins justificam os meios? Seria coerente com a ideologia que defende. A crítica em si é esdrúxula do ponto de vista histórico, político e econômico, mas, mesmo assim, se ele pretendia fazê-la, que a fizesse sem recorrer à piada de muito mau gosto. Ele poderia ter exposto a imagem e ter dito que aquela situação é causada pelo capitalismo ou pelo neoliberalismo. Continuaria errado, mas não seria tão desumano. Deixo aqui um recado ao leitor: se o teu sistema moral permite esse escárnio, teu sistema moral permite muitas coisas. Infelizmente aquela imagem não é a única nos livros da coleção Nova História Crítica, observe:

(clique nas imagens para melhor visualizá-las sem sair desta página) 

Segundo o MEC, no Guia de 2008, no livro é “priorizado o ensino voltado para a formação do aluno como um cidadão autoconsciente e crítico”. Temos um problema semântico aqui. Aliás, dois. O que significa para o MEC ‘autoconsciente’ e ‘crítico’? O indivíduo ‘autoconsciente’ é consciente de que? É uma questão importante. O problema da palavra ‘crítica’ é pior. No Dicionário Houaiss, uma de suas acepções é “capacidade de julgar, de examinar racionalmente livre de preconceitos e sem julgamento de valor”, porém, sabemos que ‘crítica’ é usada em alguns contextos pedagógicos como adoção de certo conteúdo ideológico muitas vezes eivado de preconceito e dogmatismo. A apresentação de Ronald Reagan abaixo se encaixa em qual definição?

Compare o que você acabou de ler com aquilo que o MEC afirma sobre o livro: [a obra] problematiza o conhecimento histórico e valoriza a diversidade de possibilidades interpretativas. É possível qualquer interpretação além daquela em que Reagan foi um idiota nazista? O que vai acima não uma exceção, é a regra. O maniqueísmo do livro não é só perceptível, ele está na letra fria do texto. O que Mario Schmidt diz sobre a visita de Reagan à Alemanha é, no mínimo, escandaloso. Aliás, no livro não há qualquer referência ao discurso de Reagan em frente ao Portão de Brandemburgo em 1987. Sim, aquele discurso em que Reagan diz“Senhor Gorbatchev, derrube este muro!” Um dos fatos mais relevantes do Século XX é sonegado dos estudantes, que recebem a versão “Reagan foi à Alemanha louvar seus heróis nazistas”.

De qualquer forma, os alunos não entenderiam o pedido de Reagan, pois segundo Mario Schmidt, os americanos foram os principais responsáveis pela construção do Muro de Berlim. Isso mesmo. A história resumida é a seguinte: no fim da Segunda Guerra os americanos estavam ricos, os russos, arruinados pela invasão nazista. Assim, os americanos puderam investir na Berlim Ocidental e criaram a falsa ideia de prosperidade capitalista. Os russos, acuados, construíram o muro. Schmidt diz que nada justifica a construção do muro, mas ele já havia justificado. O procedimento é amplamente utilizado por Schmidt no relato de diversos eventos históricos.

Preste a atenção no seguinte trecho, o contexto são as ditaduras na América do Sul, mas Schmidt está falando do Brasil: “O que a ditadura teve de bom” – “Mas as ditaduras não tiveram nada de bom”?, as pessoas costumam perguntar. Na verdade essa é uma falsa pergunta pois não leva em conta que o positivo serviria de desculpa esfarrapada para o negativo.” Uma flagrante contradição com o conteúdo dos livros, o que manifesta certo desdém pela inteligência dos estudantes, já que Schmidt gasta muitas páginas para propagar a superioridade intelectual, moral e econômica das ditaduras socialistas e a infalibilidade de algumas de suas lideranças. As críticas que ele faz são pálidas e laterais, diluídas pela imagem perfeccionista que constrói do socialismo.

Não é preciso provar que os livros são pura doutrinação ideológica, isso está escrito em um deles. Em Nova História Crítica da América podemos ler: “Contra a História Tradicional (HT). A História Tradicional nos faz decorar os heróis da classe dominante.”  Schmidt está entre aqueles historiadores que acreditam que apelar para a “luta de classes”, ou qualquer outro conceito, torna a História 100% permeável. A História aceita muitas interpretações, é verdade, mas não todas as possíveis. Algumas são risíveis porque precisam apagar centenas de fatos para manter a versão, a fábula, de pé.

Repare no herói abaixo, Che Guevara aparece associado ao que os jovens normalmente apreciam. Ardil recorrente nos livros, forçar a crença de que para ser descolado, inteligente e humano é preciso ser de esquerda.

 

Em um quadro destacado “O QUE PENSAVAM OS JOVENS DOS ANOS 60” (nas entrelinhas: O QUE VOCÊ DEVE PENSAR), Schmidt apresenta seu ideal de jovem (um roteiro para compreender os livros). Ele pergunta: “O que você estaria pensando se fosse um estudante nos anos 60?” E responde: “Provavelmente você seria de esquerda. Teria lido a História da Riqueza do Homem, de Leo Huberman… Lenin seria sempre citado. Che Guevara venerado como herói. Você teria ódio dos EUA,mas desconfiaria que o socialismo soviético era burocratizado.”  E ele termina dizendo: O problema é que muitos [daqueles jovens] se tornariam, nos anos 90, empresários gananciosos, executivos cínicos… Aí está o que ser e o que não ser, o que pensar e, principalmente, o que odiar.

O cerne da obra, falo especificamente de quando trata da política nos séculos XIX e XX, pode ser assim resumido: o capitalismo é nefasto; os EUA, a expressão desse mal. Qualquer coisa positiva vinda de um ou de outro é obra do acaso, a motivação certamente era pérfida. Por outro lado, o socialismo é o sonho possível, obra dos homens sábios e de bom coração. Infelizmente foi vítima dos EUA e da burocracia stalinista; porém, nada diminui o fato de que a intenção era nobre. Nada! Aliás,“havia socialismo naquilo?”, isto é, na URSS, é uma das poucas perguntas não retóricas dos livros. Um dos raros momentos em que o autor não induz a resposta. É a dúvida que interessa, então ele apresenta cinco versões para o que havia na URSS. Entretanto, não há dúvidas de que o socialismo em Cuba e na China foi um sucesso. Esses dois países legaram à humanidade grandes estadistas, Fidel Castro e Mao Tsé-tung.

 

A Venezuela começa sua profunda transformação social (semiótica)

O que há em comum entre Che, Mao e Chávez? São de esquerda, certo, mas além disso? São intelectuais! Outra das dicotomias apresentadas por Schmidt, a esquerda reúne a nata intelectual do planeta, na direita só há brucutus. Che escreveu sobre economia e política; Mao foi professor, também autor de livros sobre economia e política; Chávez, filho de professores, formado em Sociologia e pós-graduado em Ciência Política.

Marcuse, Althusser, Lukács, Gramsci, Leo Huberman, o estudante que utilizar a coleção Nova História Crítica ficará com a impressão de que a teoria política no século XX se resume ao que é discutido por esses autores e mais alguns outros, todos de esquerda, em sua maioria comentaristas da obra de Marx. Hayek e Friedman são citados en passant como ideólogos do neoliberalismo em um pequeno quadro que “explica” as ideias políticas de Reagan e Thatcher. Na maioria dos livros de Schmidt, esse quadro é ilustrado pelas imagens daquele homem “dizendo” “Aí, galera: viva o capitalismo neoliberal!” (ou liberal, dependendo do contexto) e daquelas crianças “dizendo” “ainda bem que meu país não é socialista…”

Repare como os conceitos são adequadamente apresentados no pequeno trecho abaixo:

ESQUERDA X DIREITA (a definição de Mario Schmidt)

esquerda é favorável às transformações sociais, está sempre querendo mais direitos para os trabalhadores. Os Social-Democratas (socialistas reformista) eram de esquerda. Os comunistas eram de extrema esquerda.

centro é uma espécie de direita moderada.

direita é bastante conservadora, repudiando mudanças sociais profundas e dizendo que medidas a favor dos trabalhadores prejudicam à nação. A extrema-direita defende ditaduras violentas e o fim dos direitos mais elementares do povo. Os fascistas são de extrema-direita.

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O facão dos índios isolados

Uma ONG internacional liberou ontem fotos de índios isolados da fronteira entre o Brasil e o Peru. Quem olha as imagens de perto toma um susto: uma pequena índia (parece uma índia) segura um baita facão de gaúcho. É uma ótima prova de que aqueles não são índios “completamente isolados”, como se divulgou. No contato entre as tribos, a tecnologia ocidental chegou antes que os próprios ocidentais – e os índios trataram de agarrá-la como quem está desesperado para sair do Paleolítico. O finzinho do texto abaixo, um trecho do Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil, mostra que faz um tempo – uns cinco séculos – que isso acontece:

A história tradicional diz que os portugueses deram quinquilharias aos índios em troca de coisas muito mais valiosas, como pau-brasil e animais exóticos. Isso é achar que os índios eram completos idiotas. Aos seus olhos, nada poderia ser mais fascinante que a cultura e os objetos dosvisitantes. Não eram só quinquilharias que os portugueses ofereciam, mas riquezas e costumes selecionados durante milênios de contato com civilizações da Europa, da Ásia e da África, que os americanos, isolados por uma faixa de oceano de 4 mil quilômetros, não puderam conhecer. Comprar aqueles artefatos com papagaios ou pau-brasil era um ótimo negócio. Seria como trocar roupas velhas que ocupam espaço no armário por um uma espada jedi de Guerra nas Estrelas.

Imagine, por exemplo, a surpresa dos índios ao conhecer um anzol. Não dependiam mais da pontaria para conseguir peixes, e agora eram capazes de capturar aqueles que ficavam no fundo. Um machado também deve ter sido uma aquisição sem precedentes. “As facas e machados de aço dos europeus eram ferramentas que reduziam em muito o seu trabalho, porque eliminavam a faina extenuante de lascar pedra e lavrar madeira, e encurtavam em cerca de oito vezes o tempo gasto para derrubar árvores e esculpir canoas”, escreveu o historiador americano Warren Dean. “É difícil imaginar o quanto deve ter sido gratificante seu súbito ingresso na idade do ferro […].” No começo,os portugueses tentaram esconder dos índios a técnica de produzir metais, proibindo os ferreiros de ter índios como ajudantes. Mas a metalurgia escapou do controle e se espalhou pela floresta. A técnica foi transmitida entreos índios a ponto de os europeus, quando entravam em contato com uma tribo isolada, já encontrarem flechas com pontas metálicas.

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Livros para ler nas férias (2)

Basta buscar por “capitalismo” no Google Images para perceber como as pessoas odeiam esse sistema: só aparecem imagens de opressão e egoísmo. Pois, depois de ler As Seis Lições, de Ludwig von Mises, um dos mestres da escola austríaca de economia, fica fácil entender que deveríamos ter o sentimento oposto. O pequeno livro – menos de 100 páginas – funciona como uma terapia para anti-capitalistas. Reunião de seis palestras que Mises apresentou na Argentina em 1959, mostra como a economia da Revolução Industrial fez bem à saúde, à democracia, à liberdade. Tenho certeza que o livro mudará quase todo o seu jeito de pensar ou o deixará radiante por ter descoberto argumentos sobre coisas que sempre suspeitou.

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Não me contive e selecionei trechos longos. Para quem gostar, o livro é vendido por  R$ 15 pelo Instituto Mises Brasil. Também está disponível no site do excelente movimento Ordem Livre.

Álcool, drogas e Estado

A partir do momento em que começamos a admitir que é dever do governo controlar o consumo de álcool do cidadão, que podemos responder a quem afirme ser o controle dos livros e das idéias muito mais importante? Liberdade significa realmente liberdade para errar. Isso precisa ser bem compreendido. Podemos ser extremamente críticos com relação ao modo como nossos concidadãos gastam seu dinheiro e vivem sua vida. Podemos considerar o que fazem absolutamente insensato e mau. Numa sociedade livre, todos têm, no entanto, as mais diversas maneiras de manifestar suas opiniões sobre como seus concidadãos deveriam mudar seu modo de vida: eles podem escrever livros; escrever artigos; fazer conferências. Podem até fazer pregações nas esquinas, se quiserem – e faz-se isso, em muitos países. Mas ninguém deve tentar policiar os outros no intuito de impedi-los de fazer determinadas coisas simplesmente porque não se quer que as pessoas tenham a liberdade de fazê-las.

É essa a diferença entre escravidão e liberdade. O escravo é obrigado a fazer o que seu superior lhe ordena que faça, enquanto o cidadão livre – e é isso que significa liberdade – tem a possibilidade de escolher seu próprio modo de vida. Sem dúvida esse sistema capitalista pode ser – e é de fato – mal usado por alguns. É certamente possível fazer coisas que não deveriam ser feitas. Mas se tais coisas contam com a aprovação da maioria do povo, uma voz discordante terá sempre algum meio de tentar mudar as idéias de seus concidadãos. Pode tentar persuadi-los, convencê-los, mas não pode tentar constrangê-los pela força, pela força policial do governo.

Os artistas deveriam ser os mais ardorosos capitalistas

É verdade, obviamente, que grandes pintores e grandes escritores suportaram, muitas vezes, situações de extrema penúria. Podem ter tido êxito em sua arte, mas nem sempre em ganhar dinheiro. Van Gogh foi por certo um grande pintor. Teve de sofrer agruras insuportáveis e acabou por se suicidar, aos 37 anos de idade. Em toda a sua existência, vendeu apenas uma tela, comprada por um primo. Afora essa única venda, viveu do dinheiro do irmão, que, apesar de não ser artista nem pintor, compreendia as necessidades de um pintor. Hoje, não se compra um Van Gogh por menos de cem ou duzentos mil dólares.

No sistema socialista, o destino de Van Gogh poderia ter sido diverso. Algum funcionário do governo teria perguntado a alguns pintores famosos (a quem Van Gogh seguramente nem sequer teria considerado artistas) se aquele jovem, um tanto louco, ou completamente louco, era de fato um pintor que valesse a pena subsidiar. E com toda certeza eles teriam respondido: “Não, não é um pintor; não é um artista; não passa de uma criatura que desperdiça tinta”, e o teriam enviado a trabalhar numa indústria de laticínios, ou para um hospício. Todo esse entusiasmo pelo socialismo manifestado pelas novas gerações de pintores, poetas, músicos, jornalistas, atores, baseia-se, portanto, numa ilusão. Refiro-me a isso porque esses grupos estão entre os mais fanáticos defensores da concepção socialista.

O capitalismo ameaça os ricos, não os pobres

Se um inglês – ou, no tocante a esta questão, qualquer homem de qualquer país do mundo – afirmar hoje aos amigos ser contrário ao capitalismo, há uma esplêndida contestação a lhe fazer: “Sabe que a população deste planeta é hoje dez vezes maior que nos períodos precedentes ao capitalismo? Sabe que todos os homens usufruem hoje um padrão de vida mais elevado que o de seus ancestrais antes do advento do capitalismo? E como você pode ter certeza de que, se não fosse o capitalismo, você estaria integrando a décima parte da população sobrevivente? Sua mera existência é uma prova do êxito do capitalismo, seja qual for o valor que você atribua à própria vida.”

Não obstante todos os seus benefícios, o capitalismo foi furiosamente atacado e criticado. É preciso compreender a origem dessa aversão. É fato que o ódio ao capitalismo nasceu não entre o povo, não entre os próprios trabalhadores, mas em meio à aristocracia fundiária – a pequena nobreza da Inglaterra e da Europa continental. Culpavam o capitalismo por algo que não lhes era muito agradável: no início do século XIX, os salários mais altos pagos pelas indústrias aos seus trabalhadores forçaram a aristocracia agrária a pagar salários igualmente altos aos seus trabalhadores agrícolas. A aristocracia atacava a indústria criticando o padrão de vida das massas trabalhadoras.

Obviamente, do nosso ponto de vista, o padrão de vida dos trabalhadores era extremamente baixo. Mas, se as condições de vida nos primórdios do capitalismo eram absolutamente escandalosas, não era porque as recém-criadas indústrias capitalistas estivessem prejudicando os trabalhadores: as pessoas contratadas pelas fábricas já subsistiam antes em condições praticamente subumanas.


A velha história, repetida centenas de vezes, de que as fábricas empregavam mulheres e crianças que, antes de trabalharem nessas fábricas, viviam em condições satisfatórias, é um dos maiores embustes da história. As mães que trabalhavam nas fábricas não tinham o que cozinhar: não abandonavam seus lares e suas cozinhas para se dirigir às fábricas – corriam a elas porque não tinham cozinhas e, ainda que as tivessem, não tinham comida para nelas cozinharem. E as crianças não provinham de um ambiente confortável: estavam famintas, estavam morrendo. E todo o tão falado e indescritível horror do capitalismo primitivo pode ser refutado por uma única estatística: precisamente nesses anos de expansão do capitalismo na Inglaterra, no chamado período da Revolução Industrial inglesa, entre 1760 e 1830, a população do país dobrou, o que significa que centenas de milhares de crianças – que em outros tempos teriam morrido – sobreviveram e cresceram, tornando-se homens e mulheres.

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Três livros para as férias (1)

Se você gostou do Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil mas achou que ele acaba rápido demais, vão aqui três sugestões de leitura. São uma espécie de continuação – bem melhorada – do livro que escrevi. E ótimos companheiros para essas férias.

A primeira dica é o Contra um Mundo Melhor, do Luiz Felipe Pondé, também publicado pela LeYa. É um grito de libertação à patrulha do bom-mocismo que encaramos hoje em dia. Não é um livro otimista ou reconfortante – mas talvez você se sinta aliviado ao conhecê-lo. Vai descobrir que não precisa gastar tanta energia tentando acreditar em si próprio, satisfazer os outros ou atingir a felicidade.  Abaixo, alguns trechos que adorei:

Tenho uma ética afinal de contas. Mas ela nada vale para quem se preocupa com ética. Mas eu, como já disse antes, não confio em pessoas éticas. Minha ética começa aqui: sempre parto do princípio de que serei um derrotado ao final, pouco importa o que eu faça. Nesse sentido, a autoconfiança tem em mim o mesmo efeito que os odores que emanam dos corpos nos necrotérios: o cheiro de um sonho risível de futuro.

Não acho que tenhamos mudado um milímetro desde a experiência nazista. Naquele momento, muitos europeus colaboraram com o massacre não apenas porque odiavam as vitimas dos nazistas (nem precisavam odiá-las, isso seria até demais pensar), mas apenas pelo amor ao cotidiano. Hoje em dia, se qualquer regime decidisse perseguir o grupo do qual seu vizinho faz parte, você fecharia os olhos como os franceses fizeram. A covardia e o amor à rotina acomodam mais os homens ao crime coletivo e social do que a força das ideias. Em nome de um emprego melhor, em nome de sentir menos medo diariamente, em nome de conseguir melhor qualidade de vida, aceitamos qualquer crime.

Ler livros de autoajuda, arrumar sofás de acordo com as energias da casa (submetendo o universo às mesquinharias diárias que toda casa esconde sob sua sala de jantar), reciclar lixo como momento ético mais alto do dia, lavar as mãos com álcool gel por medo de vírus, respeitar o parceiro no amor (aliás, quem respeita o parceiro no amor é porque não ama; “respeitar o parceiro no amor” é uma das mentiras mais chiques que circulam por aí), tudo isso é brega.  Enfim, o que nos torna humanos são nossas desgraças. Por isso, uma sociedade que estilo de “utilitarista de afetos”, movida por uma geometria do útil, como a nossa, em que quase todo mundo carrega o rosto idiota de quem vive buscando a felicidade, se desumaniza à medida que se faz estrategista eterno do sucesso existencial.

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Alunos e professores

Reproduzo abaixo quatro elogios especiais que recebi desde que o Guia Politicamente Incorreto foi lançado, há um ano. São dois ex-alunos e dois professores contando sua experiência com a história do Brasil e os desvios ideológicos da escola. Todos eles se sentiram libertados com o livro – e ao mesmo tempo já imaginavam diversas coisas que conto no Guia. A carta mais impressionante é a última: o leitor diz que seu professor recomendava os alunos a lutar pelas Farc na Colômbia. Imagine o que ele não fazia com a história do Brasil.


Terapia

Terminei de ler seu livro neste instante. Gostei muito.Você prova que a história pode ser crítica e também divertida, sem deixar de ser documental. Cursei história na USP, os professores repetiam que se tratava de uma ciência. Ao lecionar não entendia se era eu que não acreditava nos livros e no que ensinava, ou se os meninos odiavam a matéria por não ser objetiva. Virei diretora escolar, desisti da história. Seu livro me faz lembrar uma mistura de trabalho acadêmico com jornalismo. Foi uma terapia! Idili Afonso

Libertação

Eu e meu marido lemos juntos, literalmente, e disputamos o único exemplar encontrado na Saraiva da rua do Ouvidor, aqui no Centro do Rio. As informações são libertadoras! Terminei o ensino médio há 21 anos e fiquei um pouco chateada em me perceber que a manipulação das informações foi tão intensa. (…) Parabéns! Sua juventude traz frescor ao livro e esperança de mais autenticidade ao currículo escolar brasileiro nos próximos anos. Além de fomentar um pensamento mais crítico em relação ao senso comum. Alessandra Roberto

Conforto e desconforto

Sou professora e, também, autora de alguns textos sobre a História do Brasil. Tive a feliz
oportunidade de ler seu livro. Foi uma alegria indescritível Há algum tempo, causei desconforto, surpresa, sorrisos e (alguma) concordância (não sei se nesta ordem) quando, em um encontro com meus “pares”, posicionei-me tal qual você o faz em seu livro. Você pode avaliar a satisfação que senti ao ler o Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil.
Jeanne A. Ramia

Às Farc!

Sou um aficcionado por história e devorei o livro todo em menos de 1 dia. Finalmente encontrei uma fonte consistente, baseada em dados concretos que refuta toda aquela baboseira que você aprende quando é adolescente. Estudei no COC e no Anglo, dois colégios recheados de professores esquerdistas que insistiam em nos converter à ideologia deles. Lembro muito bem de um deles, o qual certa vez soltou uma pérola fantástica: “Se meu filho resolvesse largar tudo e ir para a Colômbia lutar ao lado das FARC, eu deixaria!”……. pode uma coisa dessas??? Obviamente que quando você tem 16 anos, você não possui capacidade de argumentação comparável ao de um educador e, em virtude disso, acaba se deixando influenciar pelos ideais de seus professores. Isso aconteceu comigo e, como você descreve em seu livro, também aconteceu com você. Carlos Luiz Pasquali Junior


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Quem disse que sou contra Zumbi?

Veio o 20 de novembro, dia da Consciência Negra, e muita gente me citou pra falar que Zumbi não merecia um feriado. Uma notinha no Zero Hora defendeu que talvez “a homenagem seja tremendamente injusta pois, segundo Leandro Narloch, Zumbi (ou, talvez, Zambi), era um tremendo mau-caráter, que capturava escravos nas fazendas vizinhas para trabalhos forçados no quilombo (…)”.

Preciso dizer: eu apoio a ideia do Dia da Consciência Negra e não tenho nada contra Zumbi. Digo no livro – e essa é uma das afirmações mais famosas do Guia – que Zumbi tinha escravos. A afirmação geralmente causa faniquitos na turma no Movimento Negro, mas é preciso entender o seguinte: não diminui Zumbi lembrar que ele provavelmente foi um rei negro com servos e escravos. No século 17, época em que viveu, não era um crime nem um pecado ter gente. Zumbi praticava um ato aceito pela lei, pela religião, por séculos de uma tradição tão antiga quanto o Remador de Ben-Hur. Não devemos condená-lo com os valores de hoje – nem ele nem os outros senhores escravistas, brancos ou negros, da mesma época.

A escravidão influenciou tanto o Brasil que merece, sim, um feriado à sua memória – e Zumbi é um personagem essencial dessa história. Para atestar a importância do homem, basta lembrar os modos e delicadezas com que o rei português escreveu a ele, em 1685:

Eu El-Rei faço saber a vós Capitão Zumbi dos Palmares que hei por bem perdoar-vos de todos os excessos que haveis praticado (…), e que assim o faço por entender que vossa rebeldia teve razão nas maldades praticadas por alguns maus senhores em desobediência às minhas reais ordens. Convido-vos a assistir em qualquer estância que vos convier, com vossa mulher e vossos filhos, e todos os vossos capitães, livres de qualquer cativeiro ou sujeição, como meus leais e fiéis súditos, sob minha real proteção.

Minha critica não é contra Zumbi, mas contra o que se fez com a imagem dele. O mito ganhou, de alguns historiadores combatentes de décadas atrás, o retrato de um herói socialista, igualitário, camarada – carimbos que não existiam no século 16.  Também acho que a estratégia atual da maior parte do movimento negro (de exigir reparações históricas e discriminações positivas) divide o pais e causa um ressentimento (estúpido) contra os negros. Isso faz mal a Zumbi.  Ele fica limitado a ser um herói apenas do movimento negro – quando é um ícone de toda a história do Brasil.

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Mimimi

Saiu hoje na Folha um texto todo reclamão e polêmico que desabafei semana passada. Vi que teve gente entendeu errado – por isso é bom deixar três coisas claras:

1. De jeito nenhum eu concordo com os fascistas que no domingo da eleição dispararam bobagens contra os nordestinos. E sei muito bem que os nordestinos não decidiram a vitória de Dilma (o termo que uso é “garantir”; há uma grande diferença entre os dois verbos).

2. Algumas pessoas estão dizendo que o texto é “contra os pobres”. Eu me refiro a ignorantes políticos de qualquer classe e qualquer região do país. Quem acha que ignorante político é pobre está revelando seu preconceito.

3. Pra quem não tiver paciência de ler, basta ver este video. O conteúdo é quase o mesmo.

Agora sim, o artigo:

Sim, eu tenho preconceito

Logo depois de anunciada a vitória de Dilma Rousseff, pingaram comentários preconceituosos na internet contra os nordestinos, grupo que garantiu a vitória da candidata petista nas eleições.
A devida reação veio no dia seguinte: a expressão “orgulho de ser nordestino” passou a segunda-feira como uma das mais escritas no microblog Twitter.
O racismo das primeiras mensagens é, obviamente, estúpido e reprovável. Não se pode dizer o mesmo de outro tipo de preconceito -aquele relacionado não à origem ou aos traços físicos dos cidadãos, mas ao modo como as pessoas pensam e votam. Nesse caso, eu preciso admitir: sim, eu tenho preconceito.
Eu tenho preconceito contra os cidadãos que nem sequer sabiam, dois meses antes da eleição, quem eram os candidatos a presidente. No fim de julho, antes de o horário eleitoral começar, as pesquisas espontâneas (aquela em que o entrevistador não mostra o nome dos candidatos) tinham percentual de acerto de 45%. Os outros 55% não sabiam dizer o nome dos concorrentes. Isso depois de jornais e canais de TV divulgarem diariamente a agenda dos presidenciáveis.
É interessante imaginar a postura desse cidadão diante dos entrevistadores. Vem à mente uma espécie de Homer Simpson verde e amarelo, soltando monossílabos enquanto coça a barriga: “Eu… hum… não sei… hum… o que você… hum… está falando”. Foi gente assim, de todas as regiões do país, que decidiu a eleição.
Tampouco simpatizo com quem tem graves deficiências educacionais e se mostra contente com isso e apto a decidir os rumos do país.
São sujeitos que não se dão conta de contradições básicas de raciocínio: são a favor do corte de impostos e do aumento dos gastos do Estado; reprovam o aborto, mas acham que as mulheres que tentam interromper a gravidez não devem ser presas; são contra a privatização, mas não largam o terceiro celular dos últimos dois anos. “Olha, hum… tem até câmera!”.
Para gente assim, a vergonha é uma característica redentora; o orgulho é patético. Abster-se do voto, como fizeram cerca de 20% de brasileiros, é, nesse caso, um requisito ético. Também seria ótimo não precisar conviver com os 30% de eleitores que, segundo o Datafolha, não se lembravam, duas semanas depois da eleição, em quem tinham votado para deputado.
Não estou disposto a adotar uma postura relativista e entender esses indivíduos. Prefiro discriminá-los. Eu tenho preconceito contra quem adere ao “rouba, mas faz”, sejam esses feitos grandes obras urbanas ou conquistas econômicas.
Contra quem se vale de um marketing da pobreza e culpa os outros (geralmente as potências mundiais, os “coronéis”, os grandes empresários) por seus problemas. Como é preciso conviver com opiniões diferentes, eu faço um tremendo esforço para não prejulgar quem ainda defende Cuba e acredita em mitos marxistas que tornariam possível a existência de um “candidato dos pobres” contra um “candidato dos ricos”.
Afinal, se há alguma receita testada e aprovada contra a pobreza, uma feliz receita que salvou milhões de pessoas da miséria nas últimas décadas, é aquela que considera a melhor ajuda aos pobres a atitude de facilitar a vida dos criadores de riqueza.
É o caso do Chile e de Cingapura, onde a abertura da economia e a extinção de taxas e impostos fizeram bem tanto aos ricos quanto aos pobres. Não é o caso da Venezuela e da Bolívia.
Por fim, eu nutro um declarado e saboroso preconceito contra quem insiste em pregar o orgulho de sua origem. Uma das atitudes mais nobres que alguém pode tomar é negar suas próprias raízes e reavaliá-las com equilíbrio, percebendo o que há nelas de louvável e perverso. Quem precisa de raiz é árvore.

Sim, eu tenho preconceito LEANDRO NARLOCH 


Eu tenho preconceito contra quem se vale de um marketing da pobreza e culpa os outros (geralmente, as potências mundiais) por seus problemas 


Logo depois de anunciada a vitória de Dilma Rousseff, pingaram comentários preconceituosos na internet contra os nordestinos, grupo que garantiu a vitória da candidata petista nas eleições.
A devida reação veio no dia seguinte: a expressão “orgulho de ser nordestino” passou a segunda-feira como uma das mais escritas no microblog Twitter.
O racismo das primeiras mensagens é, obviamente, estúpido e reprovável. Não se pode dizer o mesmo de outro tipo de preconceito -aquele relacionado não à origem ou aos traços físicos dos cidadãos, mas ao modo como as pessoas pensam e votam. Nesse caso, eu preciso admitir: sim, eu tenho preconceito.
Eu tenho preconceito contra os cidadãos que nem sequer sabiam, dois meses antes da eleição, quem eram os candidatos a presidente. No fim de julho, antes de o horário eleitoral começar, as pesquisas espontâneas (aquela em que o entrevistador não mostra o nome dos candidatos) tinham percentual de acerto de 45%. Os outros 55% não sabiam dizer o nome dos concorrentes. Isso depois de jornais e canais de TV divulgarem diariamente a agenda dos presidenciáveis.
É interessante imaginar a postura desse cidadão diante dos entrevistadores. Vem à mente uma espécie de Homer Simpson verde e amarelo, soltando monossílabos enquanto coça a barriga: “Eu… hum… não sei… hum… o que você… hum… está falando”. Foi gente assim, de todas as regiões do país, que decidiu a eleição.
Tampouco simpatizo com quem tem graves deficiências educacionais e se mostra contente com isso e apto a decidir os rumos do país.
São sujeitos que não se dão conta de contradições básicas de raciocínio: são a favor do corte de impostos e do aumento dos gastos do Estado; reprovam o aborto, mas acham que as mulheres que tentam interromper a gravidez não devem ser presas; são contra a privatização, mas não largam o terceiro celular dos últimos dois anos. “Olha, hum… tem até câmera!”.
Para gente assim, a vergonha é uma característica redentora; o orgulho é patético. Abster-se do voto, como fizeram cerca de 20% de brasileiros, é, nesse caso, um requisito ético. Também seria ótimo não precisar conviver com os 30% de eleitores que, segundo o Datafolha, não se lembravam, duas semanas depois da eleição, em quem tinham votado para deputado.
Não estou disposto a adotar uma postura relativista e entender esses indivíduos. Prefiro discriminá-los. Eu tenho preconceito contra quem adere ao “rouba, mas faz”, sejam esses feitos grandes obras urbanas ou conquistas econômicas.
Contra quem se vale de um marketing da pobreza e culpa os outros (geralmente as potências mundiais, os “coronéis”, os grandes empresários) por seus problemas. Como é preciso conviver com opiniões diferentes, eu faço um tremendo esforço para não prejulgar quem ainda defende Cuba e acredita em mitos marxistas que tornariam possível a existência de um “candidato dos pobres” contra um “candidato dos ricos”.
Afinal, se há alguma receita testada e aprovada contra a pobreza, uma feliz receita que salvou milhões de pessoas da miséria nas últimas décadas, é aquela que considera a melhor ajuda aos pobres a atitude de facilitar a vida dos criadores de riqueza.
É o caso do Chile e de Cingapura, onde a abertura da economia e a extinção de taxas e impostos fizeram bem tanto aos ricos quanto aos pobres. Não é o caso da Venezuela e da Bolívia.
Por fim, eu nutro um declarado e saboroso preconceito contra quem insiste em pregar o orgulho de sua origem. Uma das atitudes mais nobres que alguém pode tomar é negar suas próprias raízes e reavaliá-las com equilíbrio, percebendo o que há nelas de louvável e perverso. Quem precisa de raiz é árvore.

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O PSOL é contra os pobres?

Dia desses, almoçando com uns amigos que pregam a liberdade econômica no Brasil, percebi que o pior cenário para os pobres brasileiros seria a vitória de algum partido nanico da esquerda. Quem é “contra burguês” também é contra os pobres.  Esse raciocínio virou um artigo para o Instituto Millenium. Abaixo destaco os trechos mais legais.

Receita de pobreza

É difícil imaginar uma receita de criação de pobreza mais eficiente que a proposta pelos partidos nanicos da esquerda.

De todas as contradições desta eleição, a mais interessante é a que envolve os partidos radicais da esquerda (PSOL, PSTU, PCO) e suas propostas para acabar com a miséria e a desigualdade. Nos debates, no horário eleitoral, nas entrevistas, os candidatos desses partidos falam sobre os baixos salários, mostram cenas de crianças miseráveis, desfilam como os grandes defensores da igualdade, os maiores inimigos dos ricos. Mas prometem justamente as medidas que, em todos os países em que foram implantadas, resultaram em mais miséria, mais pobreza, mais burocratas com um poder desigual diante dos outros cidadãos.

O PSOL, de Plínio de Arruda Sampaio, sugere reestatizar empresas privatizadas e “refundar a estratégia do socialismo”. O PCO diz que vai suspender o pagamento da dívida pública. E os candidatos do PSTU afirmam que o único meio de acabar com a fome é romper com o imperialismo mundial e o FMI. É difícil imaginar uma receita de criação de pobreza mais eficiente que a proposta por esses partidos.

A economia fechada e o aumento do Estado fizeram a Argentina, que já foi o único país do Primeiro Mundo na América do Sul, patinar por todo o século 20. Depois do famoso calote de 2002, mais de 2 milhões de argentinos se tornaram pobres num único mês. Na Venezuela, o “socialismo do século 21” aumentou o número de bebês subnutridos (de 8,4% para 9,1% entre 1999 e 2006), as casas sem acesso a água, a pobreza e o índice de Gini, que mede a desigualdade econômica. A economia deve diminuir entre 3% e 6% em 2010 – enquanto os vizinhos comemoram os tempos de prosperidade.

Mais que multiplicar a pobreza, esse modelo cria uma desigualdade institucional que lembra os tempos de nobreza e feudalismo. Como descreveu Otto Graf Lambsdorff, ex-Ministro da Economia da Alemanha da década de 1980, o Estado pesado demais cria “uma classe parasita de burocratas socialistas e de políticos que obtém benefícios por meio de excesso de regulamentação e da corrupção ou por meio da administração de vastos impérios de indústrias e de bancos nacionalizados”.

Se os candidatos da esquerda radical estão realmente comprometidos com a redução da pobreza, devem seguir os países que conseguiram tratar esse mal. São em geral nações que percorreram um caminho parecido. Diminuíram os impostos, as barreiras comerciais e o controle do governo nos transportes e nas comunicações. E seguiram a regra ridiculamente básica sugerida pelo FMI: não gastar mais do que se arrecada.

Com poucas diferenças, foi isso que fez a Irlanda, a Coreia do Sul, Singapura e outros campeões de redução da miséria. Costa Rica e outros países da América Central, depois de estabelecer acordos de livre comércio com os Estados Unidos, estão transformando pobres em classe média. O exemplo melhor e mais próximo é o do Chile. Enquanto privatizava mais de 400 estatais, derrubava encargos trabalhistas (eles somam hoje só 4% do total do salário, dez vezes menos que no Brasil) e assinava acordos comerciais para se tornar uma dez economias mais abertas do mundo, o Chile via suas favelas virarem bairros. Em 20 anos, a taxa de pobreza caiu quase três vezes – é hoje de 13%, menos que a metade da média latino-americana.

A luta contra a pobreza encampada pelos partidos radicais esbarra num equívoco fundamental. Diante de uma multidão de miseráveis e de poucos enriquecidos, o rebelde da esquerda liga os dois pontos e explica a pobreza pela luta de classes: os pobres existiriam por causa dos ricos. Não é fácil entender que a pobreza existe por falta de ricos, de pessoas com dinheiro que disputem o serviço dos mais pobres. Mais difícil ainda é admitir que o melhor jeito de diminuir a pobreza é facilitando a vida dos geradores de riqueza. Quem é “contra burguês” também é contra os pobres – e contra o próprio país.

Será que os nanicos da esquerda não conhecem esses princípios básicos de economia? Provavelmente sabem, sim. Acontece que o objetivo deles não é acabar de verdade com a pobreza. E sim desfilar como radicais – o que acaba dando apoio a partidos mais moderados donos dos mesmos equívocos.

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A feijoada das Astúrias

Helga Maria Saboia Bezerra, uma leitora do Guia, manda uma curiosa contribuição: lá no principado espanhol das Astúrias, onde ela vive, também existe uma feijoada. Mais uma prova de que o nosso prato típico existia antes mesmo do Brasil.

“Chamou-me a atenção o que dizes sobre a origem europeia da feijoada. Vivo há quase seis anos em uma região da Espanha, Asturias, onde encontrei um prato típico à base de favas (um feijão grande e branco que aqui recebe o nome de ‘faba’ ou ‘alubia’), linguiça, chouriço e toucinho (morcilla, chorizo y tocino). É um prato pesado como a feijoada e que tem com ela um enorme parecido. O consumo das ‘fabas’ em Asturias remonta ao século XVI e este prato também é comparado ao ‘cassoulet’ francês. Entendo que quase tudo o que há na América deriva de uma ou outra maneira da Europa e sempre estive convencida de que a ‘fabada asturiana’ está na origem da feijoada brasileira. Creio que é interessante notar que Portugal e Espanha estiveram unidos durante mais de meio século (1580-1640) sob o reinado de Felipe II e eu penso que esta específica gastronomia asturiana pode então ter ‘emigrado’ para o Brasil.”

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